quinta-feira, 22 de julho de 2010

Curso de Desenho e Ilustração no TECPUCPR

Estão abertas inscrições para o curso de extensão em “Desenho e Ilustração”, que acontece na PUC-PR. O curso é direcionado a estudantes e profissionais da área de design e comunicação. As aulas iniciam no dia 17 de agosto e seguem até 30 de setembro, às terças e quintas-feiras, das 19h30 às 22h.

O curso será ministrado pelo artista plástico e ilustrador Antônio Eder, do Sputnik Studio. Eder tem várias obras publicadas e já trabalhou em diversos curtas de animação. Também foi o diretor de animação do longa-metragem "Brichos", de 2006.

O objetivo do curso é dar ferramentas e trabalhar a prática do desenho e da ilustração, estimulando os participantes a desenvolverem uma linguagem própria para criar condições de oferecer trabalhos de qualidade para o mercado.

As inscrições podem ser feitas até o dia 13 de agosto no site www.pucpr.br/tecnico/extensao ou pelo telefone (41) 3271-1395.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Andragogia no Ensino Técnico Profissionalizante

Em pouco menos de 10 anos a procura por cursos profissionalizantes cresceu incríveis 86%. Hoje temos mais de 1 milhão de estudantes nas redes federal, estaduais, municipais e particulares matriculados em algum curso de ensino médio integrado (10% de todas as matrículas no ensino médio de acordo com o Inep) ou curso técnico pós-médio. São adolescentes e jovens interessados em terminar o ensino médio e ao mesmo tempo ocuparem um lugar no mercado de trabalho.

Porém, esta demanda gera um problema gravíssimo no sistema de ensino, pois estamos lidando com adolescentes e jovens focados no mercado de trabalho, mas que ainda estão na transição para a fase adulta. Como ensinar este indivíduo em fase de mudanças?

Segundo o professor Roberto de Albuquerque Cavalcanti na fase infantil somos "alimentados, protegidos, vestidos, banhados, auxiliados nos primeiros passos. Durante anos nos acostumamos com esta dependência, considerando-a como um componente normal do ambiente que nos rodeia. Na idade escolar, continuamos aceitando esta dependência, a autoridade do professor e a orientação deles como inquestionáveis." Ele continua: "A idade adulta trás a independência. O indivíduo acumula experiências de vida, aprende com os próprios erros, apercebe-se daquilo que não sabe e o quanto este desconhecimento faz-lhe falta. Escolhe uma namorada ou esposa, escolhe uma profissão e analisa criticamente cada informação que recebe, classificando-a como útil ou inútil."

Ou seja, como lidar com estudantes, oriundos de um ensino que  trabalha com crianças, em plena transição para a fase adulta?

Neste caso, temos duas abordagens que precisamos entender melhor. A abordagem do ensino que trabalha com crianças, a pedagogia, e a abordagem de aprendizagem dos adultos, a andragogia.

Ao começar a vida profissional, neste caso ao adentrar no ensino profissionalizante, os alunos esperam uma nova realidade educacional mais voltada às suas necessidades de ascensão profissional. Mas essa realidade nem sempre acontece.

Segundo Cavalcanti estes estudantes "se deparam com o mero continuísmo da educação fundamental e média: programas pré-organizados em períodos e disciplinas, conteúdos selecionados e estabelecidos unilateralmente pelos professores ou pela instituição; são forçados a se ajustarem a essa estrutura rígida, a ocupar o espaço de uma carteira que lhe é destinada como objetos da ação educacional da instituição. Devem fazer silêncio, prestar atenção à 'performance' dos professores e memorizar os conteúdos com o objetivo de responder perguntas nos testes de avaliação. Se tiverem dúvidas (e coragem), poderão dirigir perguntas ao alto do púlpito docente, é claro, com o máximo de propriedade para não serem ridicularizados por professores ou colegas de classe."

Não é raro presenciarmos professores saindo chorando da sala de aula, frustrados e desmotivados. Também não é raro vermos alunos faltando com frequência nas aulas ou revoltados porque o professor não sabe explicar a matéria. Mas porque isso acontece?

Um dos grandes motivos é a dissonância entre a "gogia" (pedagogia ou andragogia) utilizada e a etapa da vida do aluno e suas necessidades.

Então vamos entender um pouco as principais diferenças entre pedagogia e a andragogia:

Características da Aprendizagem
Pedagogia
Andragogia
Relação Professor/Aluno Professor é o centro das ações, decide o que ensinar, como ensinar e avalia a aprendizagem A aprendizagem adquire uma característica mais centrada no aluno, na independência e na auto-gestão da aprendizagem.
Razões da Aprendizagem Crianças (ou adultos) devem aprender o que a sociedade espera que saibam (seguindo um currículo padronizado) Pessoas aprendem o que realmente precisam saber (aprendizagem para a aplicação prática na vida diária).
Experiência do Aluno O ensino é didático, padronizado e a experiência do aluno tem pouco valor A experiência é rica fonte de aprendizagem, através da discussão e da solução de problemas em grupo.
Orientação da Aprendizagem Aprendizagem por assunto ou matéria Aprendizagem baseada em problemas, exigindo ampla gama de conhecimentos para se chegar a solução 

  (CAVALCANTI, 1999)

No mundo corporativo já se percebe há muito tempo as vantagens da abordagem andragógica para a consecução de resultados na empresa. Tanto que alguns autores já utilizam dessa vertente como base para programas onde empregados são responsáveis pelo seu próprio aprendizado, gerando muitos benefícios para as empresas, como: maior motivação, auto-estima, pró-atividade e responsabilidade.

No mundo acadêmico ainda andamos com passos de tartaruga, porém a máxima "nunca é tarde para mudar" encaixa-se perfeitamente aqui, sob pena de causarmos um retardamento no amadurecimento de nossos jovens e adolescentes.

Um dos pontos-chave para que esta mudança aconteça é a formação de nossos professores. Para lidar com a abordagem andragógica é preciso, além de outras coisas, transformar-se em facilitadores da aprendizagem e conhecer métodos e técnicas pertinentes. O papel do professor não é mais o daquele que professa e traz à luz o aluno, mas sim aquele que se torna o companheiro na viagem de aprendizagem do educando, mostrando-lhe e aconselhando-o sobre os melhores caminhos e animando-o nos momentos difíceis. Seguem algumas características necessárias ao facilitador segundo o prof. dr. Gilberto Teixeira (2010):

I   Avaliar suas Capacidades Pessoais como Educador:
• Conhecer-se melhor como pessoa.
• Não ignorar seus próprios preconceitos e aptidões quanto aos métodos instrucionais.
• Identificar estilos pessoais que podem adotar, mais espontaneamente.

II   Compreender a Situação Global em que o Processo Educacional se insere:
• Onde os alunos vão aplicar o que aprenderam?
• Que resultados se espera que obtenham com a aplicação daquilo que aprenderam?
• Que clima encontrarão para aplicar o que terão aprendido?

III   Saber Colocar se no Lugar do Aluno:
• Conhecer os mecanismos de compreensão e de memorização do aluno.
• Saber entender suas motivações e interesses.
• Saber sobre sua experiência profissional e pessoal anterior.

IV   Escolher os Métodos mais Eficazes para a Situação, Conhecer idéias básicas dos grandes pedagogos:
• Conhecer os diferentes métodos de ensino aprendizagem: da lousa ao computador.
• Exercer espírito crítico e selecionar os métodos que melhor se apliquem aos objetivos instrucionais.

V   Aprender a Transmitir Conhecimentos a um Grupo:
• Saber formar um grupo.
• Estabelecer uma boa comunicação com o grupo, dinamizá-lo, interagir.
• Saber fazer um grupo heterogêneo trabalhar em conjunto.
• Desenvolver um estilo de animação em grupo, eficaz e pessoal.

VI   Preparar e Montar um Ambiente Adequado para a Instrução:
• Saber preparar a instrução.
• Utilizar todas as informações úteis e instrucionais.
• Saber escolher os métodos instrucionais adequados aos alunos e ao conteúdo.

VII   Controlar a Eficácia Pedagógica da Instrução:
• Assegurar se de que os objetivos previstos estão sendo atingidos.
• Assegurar se de que os conhecimentos adquiridos estão sendo utilizados.
• Assegurar se de que os métodos empregados são eficazes.

VIII   Conhecer e aperfeiçoar se na Pedagogia para Adultos (Andragogia)
• Procurar conhecer os métodos andragógicos a como utilizá-los.
• Ter consciência de que se pode aprender com os alunos.

Quanto ao estudante, segundo Kowles, ao entrar na fase adulta, passa por diversas transformações que devem ser levadas em consideração:

• Deixam de ser dependentes para se tornarem indivíduos independentes, auto-direcionados;
• Acumulam experiências de vida, as quais serão o fundamento e o substrato de seu próprio aprendizado futuro;
• Seus interesses pelo aprendizado se direcionam para o desenvolvimento de habilidades que serão utilizadas na sua vida pessoal e profissional;
• Esperam uma imediata aplicação prática do que foi aprendido e reduzem seu interesse por conhecimentos de aplicação futura;
• Preferem aprender para resolver problemas e desafios do cotidiano, mais do que simplesmente aprender um determinado tema;
• Passam a apresentar motivações internas, como desejar uma promoção, sentir-se realizado por ser capaz de realizar uma ação recém aprendida, melhorar sua qualidade de vida, etc. Esta motivação interna é muito mais intensa que motivações externas como notas e avaliações de provas e testes.

Ou seja, o adulto se motiva a aprender aquilo que tem necessidade imediata de aprender, ou porque vai precisar ou porque sente falta deste conhecimento, habilidade ou atitude.

A base de seu aprendizado são suas experiências de vida, ou seja, o estudante vai relacionar as novas informações ao que já viveu e internalizar o conhecimento desta forma. Ao facilitador cabe harmonizar as diferenças e saber mediar a comunicação dentro dos grupos para que se troque experiências e todos saiam ganhando.

Comunicar para aprender

Na andragogia a comunicação tem papel fundamental, diferente do monólogo do modelo de educação hoje vigente. Tanto para criar um ambiente de aprendizagem, tanto porque a comunicação é a base da aprendizagem. Um aluno que sabe se comunicar aprende muito mais do que um que não saiba. O processo de comunicação não consiste em falar mais, não consiste em quantidade, mas sim em qualidade. Qualidade em saber se expressar, saber interpretar e principalmente saber ouvir. "Estatísticas demonstram que, na comunicação, uma pessoa gasta 65% de seu tempo ouvindo, 20% falando, 9% lendo e 6% escrevendo." (FAVA, 2010).

Porém, na comunicação na hora da aprendizagem o sentido que mais ajuda as pessoas a aprenderem é o visual. Veja tabela sobre aprendizagem por meio dos sentidos:

PALADAR 1%
TATO 1,5%
OLFATO 3,5%
AUDIÇÃO 11%
VISÃO 80%

Em relação ao método, quando unimos a oralidade com a explanação visual cria-se uma sinergia na apreensão do conteúdo, conforme demonstra o quadro a seguir:

ORAL 10%
VISUAL 20%
ORAL E VISUAL 65%

No entanto, na abordagem andragógica, nada melhor do que aprender fazendo.


Conforme dito por Cavalcanti (1999), Kelvin Miller afirma que adultos conseguem guardar apenas 10 % do que ouvem, no espaço de 72 horas. Entretanto são capazes de lembrar 85% do que ouvem, vêm e fazem, após o mesmo prazo. Ele observou ainda que as informações mais lembradas são aquelas recebidas nos primeiros 15 minutos de uma aula ou palestra. É por isso, que os professores na andragogia tem que desempenhar um papel diferente do modelo clássico.


Para lidar como todos estes desafios o facilitador deve antes de mais nada saber planejar a aprendizagem de um grupo. Este planejamento pode ser feito junto com os alunos de forma a torná-los mais responsáveis pelo seu próprio processo de aprendizagem. O facilitador deve comunicar aos alunos quais os objetivos do trabalho e deve procurar entender também quais os objetivos dos educandos, saber o que eles esperam, como e onde vão utilizar estes novos conhecimentos, habilidades e atitudes. Ou seja, o foco de ser nos resultados esperados por educadores e educandos.

Para Ari B. Oliveira o processo de aprendizagem se desenvolve da seguinte ordem: sensibilização (motivação), pesquisa (estudo), discussão (esclarecimento), experimentação (prática), conclusão (convergência) e compartilhamento (sedimentação).

Então, caros educadores, a mudança dessa realidade começa por você. Pela sua formação, evolução e dedicação. E lembre-se: o exemplo é uma das maiores ferramentas da educação. "O educador relapso não terá influência sobre seus educandos..." (JULIATTO, 2009)

quarta-feira, 2 de junho de 2010

TECPUCPR inaugura novas instalações

O Centro de Educação Profissional Irmão Mário Cristóvão, TECPUCPR,  é mantido pela Associação Paranaense de Cultura e foi criado em 1992 para ministrar cursos profissionalizantes na área da saúde. A partir de 2001, optou por investir em Cursos Técnicos atendendo a LDB 9394/96.

Em 2009 foram ofertados 23 cursos, com 2004 alunos regulares e 5647 alunos de cursos de extensão, feiras e palestras. O TECPUCPR também ministra cursos técnicos integrados na área de administração, informática e contabilidade.

Hoje, oferece 23 cursos técnicos além de cursos de ensino médio integrados com técnico em Administração, Contabilidade e Informática.

Novas instalações

No dia 20/05/2010, o TECPUCPR inaugurou suas novas instalações. O novo prédio, localizado na PUCPR, câmpus Curitiba e tem capacidade para atender 5.600 alunos e oferece 60 salas de aulas, laboratórios de informática, enfermagem, radiologia, nutrição e dietética, design, moda e arte, sala de reuniões, sala dos professores e praça de alimentação.


Fotos da inauguração



Site do TECPUCPR: www.pucpr.br/tecnico

Dica de Leitura: Teoria e Prática na Pedagogia Hospitalar: Novos Cenários, Novos Desafios

Dica de leitura para profissionais, especialmente da educação, envolvidos com crianças e adolescentes hospitalizados. O livro conta com um artigo da professora Raquel Pasternak Glitz Kowalski (A Importância das Interfaces nos Ambientes Virtuais de Aprendizagem para Crianças Hospitalizadas), minha colega de trabalho no TECPUCPR.

Sinopse

A obra "Teoria e Prática na Pedagogia Hospitalar: Novos Cenários, Novos Desafios" apresenta a contribuição de relevantes pesquisadores na área da hospitalização escolarizada. Os temas aqui abordados advêm da pesquisa e reflexão de práticas com escolares hospitalizados em diferentes contextos do país, como também abordam um novo espaço temporal diferenciado, em que as condições de aprendizagem fogem à rotina escolar, pois o aluno é uma criança ou um adolescente hospitalizado. Resgata olhares à condição de aprendizagem, em situação que difere do cotidiano de uma escola formal, porque requer visão mais ampla do profissional, demandando práticas pedagógicas que superem a ortodoxia dos processos atuais. Leva a refletir sobre a estruturação de uma pedagogia hospitalar, a qual necessita desenvolver uma ação docente que provoque o encontro entre a educação e a saúde. Ainda evidencia aspectos respectivos à atuação, a qual não pode visar como ponto principal o resgate da escolaridade, mas o atendimento do escolar hospitalizado que demanda atendimento pedagógico. Para tanto, é emergente refletir que o educador necessita estar de posse de habilidades que o tornem capaz de repensar suas ações pedagógicas e possa oferecer uma atuação sustentada pelas necessidades e peculiaridades de cada escolar hospitalizado. Seu papel principal não será o de resgatar a escolaridade, mas de transformar essas duas realidades, fazendo fluir sistemas que as aproximem e as integrem. Com isso, esta obra convida educadores e demais profissionais, direta ou indiretamente envolvidos com crianças e adolescentes hospitalizados, a redimensionarem seus olhares, suas ações e reflexões que integram educação e saúde.

Teoria e Prática na Pedagogia Hospitalar: Novos Cenários, Novos Desafios: Organizado por Elizete Lúcia Moreira Matos e Patrícia Lupion Torres. Curitiba: Editora Champagnat, 2010.

Compre no link: Editora Champagnat

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Lição de Vida

Esse fim de semana, aproveitando o dia da páscoa, saiu no caderno Viver Bem da Gazeta do Povo uma reportagem sobre pessoas que encontraram forças para renascer após "um sofrimento de diagnóstico difícil". Um dos personagens da reportagem é um garoto que foi acolhido pela Instituição "Chácara Meninos de 4 Pinheiros" (Mandirituba - Paraná). Uma instituição muito séria que considero a verdadeira escola de ou da vida.

Segue abaixo recorte da reportagem. Vale a pena a lição!

Abandono

Diorlei Santos, 20 anos. Saiu de casa aos 10 anos, morou na rua e se envolveu com drogas. Hoje é educador social.

Saí de casa aos 10 anos, por causa da violência doméstica, para morar nas ruas de Curitiba. Vi que na rua não era tão difícil de viver. Morava com mais oito crianças e normalmente ficávamos em casas abandonadas. Não tinha água nem luz, mas era um teto, o nosso “mocó”. Quando você é menor, é mais fácil: as pessoas compram comida ou dão dinheiro por pena. Usei drogas. Quando comecei com o crack, tive de roubar para sustentar o vício. Fui preso sete vezes e, na última, fiquei 120 dias no Serviço de Atendimento Social. Refleti sobre as coisas que vi e li muito a Bíblia.

Quando saí, fui para a Chácara dos Meninos de 4 Pinheiros. Eu já tinha tido outras três chances lá, mas recebi um voto de confiança. Trabalhei na horta, na granja e retomei os estudos: este ano comecei o ensino médio. Desde 2007, participo de um grupo de dança afro, o Ka-naombo. Me apeguei às pessoas, fiz amizades e aprendi muitas coisas boas. Agora sou educador social na chácara e também dou aulas de dança. Quero continuar estudando, fazer um curso de dança e artes cênicas para trabalhar nessa área. Não na tevê, mas em projetos sociais, como arte-educador. Quero ter o que ensinar.

“Quando eu ando pela cidade, as pessoas veem a minha mudança. Muitos me dizem que queriam ter a minha força para dar a volta por cima.”

Link: http://www.4pinheiros.org.br
Fonte: Gazeta do Povo

domingo, 21 de março de 2010

Publicidade (ir)responsável

Alguns dias atrás, na busca de notícias sobre a área de publicidade, minha área de formação, encontrei o lançamento de uma campanha de lingerie. Fiquei extremamente assustado com as mensagens e valores embutidos no anúncio e a falta de responsabilidade social dos criadores. Por isso o título deste artigo: mostrar que os publicitários, ao criarem a mensagem, podem ou não agir de forma socialmente responsável. Meu propósito não de maneira alguma difamar a profissão, já que minha formação é publicidade e propaganda.

Tenho grande convicção de que a mídia tem papel educador. Não que sua finalidade deva obrigatoriamente ser esta mas ela o é intrinsecamente. E, quando a comunicação é feita por veículos de massa, a responsabilidade da agência e anunciantes é ainda maior.

Ao assistir um comercial ou folhar uma revista, estamos expostos às mensagens publicitárias, porém não estamos preparados para acionar um mecanismo crítico que nos permita avaliar a mensagem profundamente. Michelle Rossi diz que "neste processo, as pessoas assimilam conteúdos que não estão explícitos na mídia, mas que foram colocados intencionalmente, de maneira subjetiva". A psicóloga Déborah Passarelli Barros de Souza ilustra esta ideia ao dizer que “você pode estar assistindo a um filme e nem se dar conta de que por trás daquele conteúdo existe uma mensagem que, na maioria das vezes, faz menção ao sexo e ao consumismo. Esta transmissão de informações não chega até o consciente, mas vai direto ao nosso inconsciente e reflete-se em comportamentos no cotidiano, que nós mesmos nem percebemos”,

Angélica Romero de Camargo em seu trabalho como educadora social de crianças e adolescentes da periferia de São Paulo notou que o receptor dessas mensagens "absorve com muita facilidade aquilo que lhe é apresentado e, na maioria das vezes, não questiona o conteúdo e, tampouco, a veracidade dessa informação."

Por este e por ter a comunicação grande força persuasiva penso que o publicitário no exercício de sua profissão e os anunciantes ao aprovarem uma campanha devem ser extremamente cautelosos e éticos. Toda mensagem vem munida de valores e conceitos subjetivos que nos conduzem o pensamento ou nos induzem à determinadas conclusões. Desmunidos de defesa crítica, estamos vulneráveis a qualquer linha de raciocínio que nos chegam via veículos de comunicação de todos os lugares, formatos, frequência e durante períodos eficazes para que surtam efeito em nossa mente.

A mídia, segundo o projeto defensor dos direitos humanos DHNET a mídia "é um espaço de força, poder e sociabilidade capaz de atuar na formação da opinião pública em relação a valores, crenças e atitudes [...] Na sociedade do conhecimento e da comunicação de massas em que vivemos, a mídia tornou-se instrumento indispensável do processo educativo."

Anúncio da lingerie. Clique na imagem para ampliar

Como publicitário e profissional da educação algumas análises próprias me permitem emitir opiniões, que imagino válidas, sobre o anúncio acima.

Segundo o site m&m online a companhia pretende "defender a postura da mulher de pensar em trocar de marido ou namorado quando ela se sentir abandonada ou rejeitada por ele". Por aí vemos que foi intencional mostrar a futilidade de seu próprio público (as mulheres) numa relação conjugal. Por consequência desrespeita também os homens, mostrando sua incapacidade de manter uma relação. Pelo que vemos na campanha a conversa entre os casais não resolve. O jeito seria mesmo partir para a infidelidade, um caminho bastante fútil de agir. Há tempos eu não via uma marca agredir desta maneira seu próprio consumidor.

Ao lado desta mulher promíscua está o nome de Jesus. Basta uma rápida busca no google para encontrar publicações da comunidade cristã ressentidas com a mensagem. Não me pareceu muito esperto da parte da companhia desprezar a opinião e ofender um público de quase 90% dos brasileiros (segundo o senso 2000).

Por fim, a campanha mostra que o produto não cumpre o papel que o anunciante pretendia, pois nem o próprio marido se sente atraído pela mulher que usa a lingerie, mesmo tendo a mulher uma beleza de "capa de revista". Parece que a lingerie causa repulsa nos homens e a mulher precisa "correr atrás" de um outro alguém que a aceite.

Os criadores da campanha e anunciante que me desculpem mas, no meu ponto de vista, faltou muita capacidade, competência, ética e responsabilidade social. Agredir numa mesma peça várias instituições não é para qualquer um!

Não quero dizer que uma campanha não possa utilizar um tema sensual ou algo do gênero, mas que se deve fazer isso com inteligência. Pois sabemos que hoje em dia a mídia atinge a todos sem distinção de idade, sexo, religião ou gênero. Respeitar os valores deveria ser um dever de todos, principalmente daqueles que possuem ferramentas como as da comunicação em massa nas mãos.

A motivação deste artigo não veio apenas desta campanha (que considero uma das piores atualmente neste sentido), mas porque, como bem observa Clemente Ivo Juliato (2009), "na publicidade, por exemplo, aparecem não raro discursos falaciosos que nos desencaminham e que são tão poderosos que acabam nos convencendo".

Leia mais sobre a relação entre mídia e educação:
http://www.crmariocovas.sp.gov.br/pdf/pol/midia_educacao.pdf
http://www.revistaconecta.com/conectados/rachel_midia_educacao.htm

Fontes:
http://www.fundacaobarbosarodrigues.org.br/upload/622109618.pdf
http://www2.metodista.br/unesco/agora/mapa_animadores_ativistas_angelica.pdf
http://www.dhnet.org.br/dados/pp/edh/br/pnedh1/edu_midia_pnedh.pdf
JULIATTO, Clemente Ivo. O horizonte da educação: sabedoria, espiritualidade e sentido da vida. Curitiba: Champagnat, 2009. 271 p.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Dica de Leitura: O Horizonte da Educação

Se você também acha que a missão dos educadores deve extrapolar os conteúdos meramente curriculares e alcançar os de níveis espirituais, transformando-os não apenas em pais ou professores, mas sim em guias do caminho da vida material e espiritual, então o livro "O Horizonte da Educação" do reitor da PUC-PR, Irmão Clemente Ivo Juliatto deve fazer parte das suas próximas leituras. O livro leva o leitor a refletir sobre sua própria jornada e dá conselhos para se procurar dentro de si o verdadeiro sentido da vida.


Sinopse:

A filosofia da história humana costuma comparar as oscilações da cultura a um pêndulo, que vai de um extremo ao outro, em seu eterno movimento. Algo parecido acontece no campo da educação. Na era da ciência e da tecnologia, dominada por uma visão materialista do mundo, o conhecimento sistematizado ocupa lugar de destaque nas escolas do Ocidente. Entretanto, nota-se um deslocamento das pessoas em busca de espiritualidade e de sentido para a vida. Passamos assim de um mundo que relativizou o sagrado para um mundo carente do sagrado. Os paradoxos do desenvolvimento científico, que por si só não conseguem responder ao problema da felicidade humana, no nível pessoal e comunitário, abrem espaço para a reflexão espiritual e para o cultivo da interioridade, inclusive na escola. Acima, porém, de qualquer circunstância cultural ou histórica que move o mundo mais para uma direção ou para outra, a escola deve firmar seu posicionamento de acordo com o que acredita ser o melhor para quem vem até ela buscar formação para o seu viver.

Este livro contém reflexões que orientam as pessoas e as escolas na busca da sabedoria e da espiritualidade, tanto na vida dos educadores quanto dos educandos. Defende a necessidade de abrir espaços para que o anseio humano pelo sagrado possa desabrochar, já no coração das novas gerações. A convicção de fundo, que norteia toda a obra, é que o sentido da vida não pode ser encontrado sem contemplar a dimensão espiritual e transcendente da vida humana.

JULIATTO, Clemente Ivo. O horizonte da educação: sabedoria, espiritualidade e sentido da vida. Curitiba: Champagnat, 2009. 271 p.

Link Editora Champagnat.